Brinque com palavras, com o corpo!

Este Blog expõe reflexões de uma dançarina e psicanalista sobre a dança.

No jogo das palavras, o corpo ora se esconde, ora aparece. O corpo, veícula da vida, nos dá sustentação. É o que vai nos propiciar gozar, usufruir o que é nosso por direito.

A DANÇA MIXX é uma dança livre e em parte subversiva. Livre pois transita entre vários estilos e modalidades de dança e cultura. Subverte a ordem do clássico, do oriental, do contemporâneo. Não se encaixa em classificações. Porém, seu ponto central é o trabalho intenso corporal visando a possibilidade de vivenciar outros gozos na dança e na vida.

Vamos brincar, capacidade que algumas crianças têem. Vamos criar, mexer, torcer, girar, pular, correr, tonificar, ouvir o som que nos toca. Vamos nos emocionar!

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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Torções entre a clínica psicanalítica e a dança


Entre as questões que a psicanálise se ocupa, no que se refere à dança, destacarei o fenômeno físico do dançar para articulá-lo com alguns aspectos da clínica e da teoria psicanalítica. Em psicanálise lacaniana, teoria e prática não se separam. Aliás, a teoria é tecida singularmente pela prática e escuta clínica.

No fenômeno físico do dançar, poderíamos dizer que a dança, neste sentido é uma sequência de movimentos coreografados ou não em um determinado espaço. No eixo ou fora dele. Dançar, necessariamente envolve algum tipo de movimento. Como um corpo se move? Ou melhor, o que move um corpo? O desejo? A angústia? O gozo?

Como este corpo se relaciona com o espaço? Aqui, entram as questões da imagem. Em termos de constituição psíquica, incialmente nos identificamos com o outro. Para nos constituirmos, necessariamente dependemos do outro. Essa relação é o que denuncia como se dá o imaginário para cada sujeito. Na loucura, o sujeito que dança encontra-se em todos os lugares. Ele é tudo. Não há uma separação entre o que é um palco e o sujeito. O que é uma parede e esse sujeito. Tampouco, não há a noção de eu e do outro.

O sujeito que enlouqueceu, sofre de problemas com o eu. A dança pode ajudar um sujeito a tratar seu eu, sua imagem despedaçada, seu corpo desintegrado. Ela forneceria o que Jacques Lacan, psicanalista francês, chamou de nome do pai. O sujeito louco sofre da falta deste conceito. Falta de uma medida fálica.

Ou seja, quando uma mãe tem um filho, este, vem obturar sua falta. É como se nada lhe faltasse nessa hora e ela teria a ilusão de completude. O filho capta o seu lugar no mundo. “Sou aquele que completa minha mãe”; “Sou tudo para ela”; “Sou um mero objeto, impedido de desejar. Só poderei desejar se perceber que algo falta no outro mãe.”
 
O desejo nasce da falta. Logo, se uma mulher que se torna mãe desejar algo além do filho, o filho terá sua função paterna ou o nome do pai dentro de si. “Uma mãe só é suficientemente boa se não o for em demasia”.

Coloco que dança é como se fosse uma mãe boa. Aquela que nos propicia desejar. E ela nos dá amor. “Amar, é dar o que não se tem”. Amar é dar sua falta. Mais do que ser “completa”, a incompletude é o que nos move. Metaforicamente, a incompletude pode nos fazer dançar, desejar.

Na dança, ocorre também a questão da satisfação escópica. A mesma linha de raciocínio. Se somos incompletos, dançar pode nos satisfazer em sermos olhados, de determinada maneira, por determinadas pessoas. Como uma criança que quer ser vista e diz: “olha mãe, pai o que eu sei fazer!”.

 

 

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Foucault entre a filosofia e o corpo/prazer


O que teria Foucault a nos dizer e acrescentar sobre o corpo? O sábio defendeu que deveríamos buscar e criar outras formar de prazer no corpo que não a unicamente sexual. Ele condenava a monarquia do sexo e afirmava: “Classificação de sexo é uma verdadeira prisão”.

Suas recomendações para a criação de novas formas de prazer envolviam uma dessexualização do prazer, uma invenção de novas possibilidades deste.

Ora pois. Do ponto de vista psicanalítico o que estaria transmitindo O Mestre? Ele estaria na linha da erogeinização, da libidinização do corpo.

Desde Freud e seu ensaio sobre as teorias sexuais infantis, ficou claro como as zonas erógenas não se localizam somente nos órgãos sexuais.

Sentimos prazer em outros lugares do corpo e ás vezes fora dele.

“A idéia de que o prazer corporal deve sempre vir do prazer sexual (que) é a raiz de todo o nosso prazer possível. Acho que isso é muito errado” (Foucault, M.).

Concordo com ele e afirmo que a dança tem o poder! O poder de nos fornecer instrumentos para sentir, viver e buscar outras formas de prazer no mundo.

O corpo quando descobre algo, quer mais.

A dança tem o privilégio de erogeneizar um corpo sem vida, sem hábito. Ela dá libido. Ela pode fazer um sujeito “esquecer” da gravidade.

DANCE, DANCE, DANCE....

 

 

 

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

O artista entre a sublimação e a arte


O artista é aquele que reconhece seu desamparo fundamental, sua falta.

Por reconhecer ele entrega-se ao ímpeto de criar e propicia que o espectador também se reconheça ali, na obra.

A criação está relacionada com a sublimação. Uma resposta ao desamparo. Para Freud, o conceito de sublimação estaria vinculado á uma saída do sujeito para lidar com sua pulsão sexual. A energia sexual seria utilizada para realizar atividades culturais SUBLIMES.

Ou seja, a sublimação vem como resposta à satisfação sexual para Freud.

Mas, se a energia sexual se destina a cultura, no caso do mecanismo da sublimação, podemos colocar que este, coloca em evidência a relação do sujeito com a cultura. Logo, a arte é inclusiva. Ela não exclui o sujeito da sociedade. Vejam a função social e psíquica da dança neste caso!

Segundo Alain Didier Weill (1997), devemos compreender a sublimação, como um “empuxo à simbolização”!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Simbolizar quer dizer elaborar a ausência e presença, elaborar os lutos da vida. Significar traduzir em palavras o que nunca foi dito OU, traduzir na dança, na obra de arte, no palco, na tela, aquilo que não se tem palavras. Aquilo que não dizemos retorna como formas sintomáticas.

 

 

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Corpo- conhecimento


“Em se tratando do meu próprio corpo ou de algum outro, não tenho nenhum outro modo de conhecer o corpo humano senão vivendo-o. Isso significa assumir total responsabilidade do drama que flui através de mim, e fundir-me com ele”. (MAURICE MERLEAU-PONTY).

Conhecer o corpo? Qual a relevância?

Merleau-Ponty nos responde certeiramente acerca do como conhecer o corpo: vivendo-o. A dança nos dá vida, vivência.

Porém, para a questão da relevância de conhecê-lo, deixo-a em aberto. Não há uma verdade absoluta. O que há é simples. Cada um é um, único. O que importa a um pode não ter destaque para outro.

Mas se partirmos do ponto de vista da constituição do psiquismo, conhecer o corpo próprio envolve a fala e o olhar do outro dirigidos a nós. Conhecer o corpo é ter um corpo simbólico. É ter tido um conhecimento paranoico no sentido de que veio do outro.

Primeiro a mãe, o pai nos dão um certo saber sobre nós. “Esta chorando porque sente frio, fome, está com dor, está triste...”. Eis um saber sobre o próprio corpo que vem do outro.

O médico diagnostica. Outro saber que vem do outro. Vale ressaltar que o saber que vem do outro sobre nós pode não ser o que temos a dizer.

Neste ponto, coloco a seguinte questão: que significa ter um saber sobre o corpo? Sobre o próprio corpo? Se o ponto de partida do conhecimento corporal vem do outro, como podemos construir, tecer um saber que é próprio e singular de cada um? Como se responsabilizar pelo nosso desejo, nossa presença, nossa forma de estar no mundo?

Deixo perguntas...caso deseje, comente, dialogue...