“A feminilidade escapa às palavras e se mantém em outra
parte que não aquela aonde se mostra”. Pommier,G.
No mês das mulheres, o assunto feminilidade está em pauta.
Temos uma data no ano para comemorar o dia da mulher. A proposta deste post é
refletir sobre o olhar que a psicanálise tem sobre o feminino e despertar a
mulher para sua singularidade. No mês delas, assunto sobre elas...
O que é ser mulher? Como a contemporaneidade define o que é
exclusivamente feminino? Qual é o discurso atual sobre a mulher? Desde já,
respondo que o ser mulher é um constante tornar-se. Não existe alguém que diz
que ser mulher é x. Mas, existem tentativas. Temos signos do que seria
feminino. A problemática é que esses signos podem causar diversos sofrimentos
ao ser feminino. E causam.
Podemos dizer que um considerável número de pessoas
considera feminino um corpo anoréxico, magro, sem marcas da vida. Ou, um corpo
desenhado no qual os glúteos são empinados, não muito grandes, os seios
enormes, barriga de tanque.
Outro signo do feminino é ser mãe. Não qualquer mãe. Tem que
ser segundo os ditames da educação, ou seja, sem falhas.
O tempo contemporâneo aliena mais. A mulher, no papel de
esposa deve ser perfeita. Não somente ter um corpo determinado, um
comportamento como mãe esperado, mas deve também saber seduzir o parceiro, ter
a libido a mil sempre, não sofrer de TPM, administrar a casa brilhantemente sem
deixar faltar nada e estar disposta á noite para jantares, sexo, sorrisos.
Sobre a carreira, é um longo assunto. Mas, atualmente, uma
mulher deve ser eficiente, reconhecida pelo chefe, competitiva, sem falhas, sem
esquecimentos e sem problemas que afetem o rendimento. Além de ter que estar
disponível 25 horas por dia.
Ufa!!!! Que maratona...
Esses signos podem provocar muitos sofrimentos. A lógica é a
seguinte: “Se não tenho o corpo ideal, não serei desejada”; “Se falhar como
mãe, meu filho será problemático”; “Se não for o que meu marido quer que eu
seja o casamento não terá sucesso”; “Se não cumprir todas as metas de trabalho,
sou inútil”.
A maioria das mulheres de hoje, vivem engessadas, presas às
demandas sociais, ao olhar do outro. Alienadas de si pouco ou nada buscam saber
dos seus próprios desejos, suas fantasias. Aliás, não há espaço para isso em
suas agendas lotadas. Elas até tentam resgatar algo do feminino em algum
momento da história, mas, dificilmente conseguem levar até o fim esta busca.
Existem mulheres, que optam pela solidão. Não querem
parceiros fixos, mas quer sexo, muito sexo. A lógica é colocar o homem no lugar
de objeto. Já que os homens não satisfazem enquanto companheiros, ou seja, eles
frustram, então a saída é ser “supra independente”. É moderno ser mulher
independente no século XXI! Geralmente, manifestam o que psiquiatria denomina
“síndrome do pânico”.
Outras mulheres passam a vida queixosa dos maridos, dos
filhos e não conseguem sair deste ciclo repetitivo de mal estar.
Temos mulheres que sabem o que desejam, porém, não encontram
caminhos para sustentar seus desejos. Mulheres que passam a vida aprisionadas
ao olhar do outro, ao que outro pensa, quer...
Por essas questões colocadas e outras que não cabem em duas
páginas, no mês das mulheres, o maior presente que uma mulher pode se dar é
saber o que realmente é importante para cada uma. O feminino é singular. É a
possibilidade de estar no mundo de outra maneira, mais ética com o desejo.
Para tal, é preciso saber dele, saber para onde aponta o
desejo inconsciente. Ele se manifesta nos sonhos, nos atos falhos, na arte...
Afinal, a mulher, “quer ser amada e deseja por ser o que ela
não é”. (Lacan, J.)
Desejo que as agendas femininas se abram para o desejo de
saber de si, para poderem ser mais genuínas, falharem tranquilamente e que
busquem auxílio para seus sofrimentos de maneira ética, em locais sem falsas
promessas, em local seguro. Uma constatação: Ninguém tira sofrimento do outro.
Precisamos saber do que nos afeta e ver nossas possibilidades de mudança...
Uma análise auxilia a mulher a saber sobre seu desejo mais
profundo. Uma dança, também pode acompanhar uma mulher em seu não-saber e sem
que ela perceba, há uma revelação! Sua fantasia!