Dançar.
Quem
dança na vida? Que metáfora a dança nos proporciona?
O
dançar envolve diversas relações: com a música, o corpo, o espaço, o outro, com o
peso do corpo...
O
contato com a música nos coloca em relação ao ritmo e consequentemente a uma
matemática e simultaneamente com uma expressão que se manifesta no movimento.
O
dançar implica necessariamente um conhecimento corporal do mais básico ao
simbólico. O objetivo pode ser se distrair, brincar ou expressar o que se quer,
viver fantasias, ficar com o corpo mais flexível, tonificado, melhorar a
relação com a imagem...
A
dança africana, necessariamente exige um contato via olhar com o outro.
Dança-se só, porém é fundamental a relação com o outro, que se dá via olhar, via
tato. É uma troca.
Partindo dessas considerações, coloco algumas
questões referentes ao viés psicanalítico:
1)
A possibilidade de ouvir a música, de se deixar
ser acariciado por ela, pode indicar o quanto o sujeito que dança se separa
dele próprio para "incorporar" sua interpretação do que ouviu. Esse
fato se aproxima de uma análise na medida em que nela, o sujeito também se
separa de si para poder se ver.
2)
Saber do corpo. Que saber se trata? Para
sabermos aonde estão os ombros, até onde vão os braços, como se colocar no
espaço, precisamos saber até onde vamos, o que temos e onde temos. Sabendo
isso, sabemos do nosso lugar topológico. Que metafórico! Saber do corpo próprio
aponta para um saber sobre a castração, conceito psicanalítico que tem por
função “desalienar” ou separar o que é meu do que é do outro para saber até
onde é possível avançar.
3)
Olhar o outro. Muitas vezes quando somos o outro
não temos como olhá-lo. Olhar envolve separação e saber até onde vai um, até
onde vai o outro. Nasce o espaço. Como cada corpo habita o espaço negativo.
Olhar o outro parece óbvio. Porém, em tempos narcísicos muitas vezes o que
olhamos é nós mesmos no outro.
A dança traz consigo algo metafórico, dialético,
que diz respeito ás operações de alienação e separação. Nesse sentido, ela pode
auxiliar um sujeito e sua singularidade, sua história, suas marcas, na
simbolização primordial.