O corpo na
psicose permanece sendo objeto do gozo do Outro. O sujeito se mistura ao seu
corpo. Não é algo que ele possui. Há uma espécie de confusão. Na dança do
ventre, por exemplo, a mulher se coloca como puro objeto de desejo do outro,
outros. Ela se coloca ativamente neste lugar. E além de ser olhada, olha.
A dançarina
quer seduzir e ser vista por homens e mulheres. Ser reconhecida pelas suas
habilidades corporais. Ela corta e recorta seu corpo. Porém, há uma diferença
entre se colocar ativamente no lugar de ser objeto de desejo do outro e não vislumbrar outro lugar como no caso da loucura.
Um corpo se
constitui a partir da presença-ausência de algum elemento. Nem só presença, nem
somente ausência e sim, uma alternância que provoca uma questão: entre ser tudo
para o outro ou nada, verifico que o outro deseja algo além de mim. Estamos no
terreno do que Jacques Lacan denominou: metáfora paterna. Que o outro quer?
Nas
psicoses, esta alternância não se efetua. Logo, a constituição do corpo
torna-se mais problemática.
Freud denominou
este movimento de ausência-presença do outro como “Fort Da”. (Quem se
interessar em saber mais sobre isso, basta procura-lo em “Além do princípio do
prazer” -1920). A simbolização primordial da qual a partir daí, pode nascer um
sujeito falante, desejante.
A aposta é
que pela via da dança, do dançar, uma mulher pode simbolizar e artificialmente
ser marcada pelo desejo do outro. Ou seja, dando um salto, a dança enquanto uma
função pode fornecer uma medida fálica e portanto uma prótese de metáfora
paterna.
Neste jogo
das alternâncias, a angústia comparece. Tanto por ser tudo para o outro (sou um
falo e me faço desejante) quanto ser um nada (desprovida de falo). Quantas
pessoas comentam que dançar é uma terapia? De que se trata esta afirmação?
Trata-se da
angústia. A angústia nasce desta simbolização primordial. A dança pode acolher
mas também pode provocar um aumento de angústia. Há que ver do que se trata.
Para
concluir, a dança pode fornecer uma prótese de metáfora paterna nas psicoses. A
dança africana exige uma certa relação com o outro via olhar. Dançar com o
outro indica um saber do próprio corpo e do corpo do outro. Aponta que há
outro, Outro, outros. Pode auxiliar um sujeito com alto grau de sofrimento psíquico.